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A SIMPLICIDADE E A LUZ DAS ALMAS
Dentro do calendário anual de festas religiosas dos terreiros de Umbanda comemora-se tradicionalmente em maio o dia dedicado a homenagear a falange de pretos-velhos. Tratam-se na realidade de espíritos cuja caracterização física no momento de sua incorporação faz
referência a história dos negros trazidos para o Brasil, que contribuíram com seu trabalho e cultura para a formação e desenvolvimento do nosso povo e da nossa história.
Todavia, se por um lado a imagem do negro trabalhador trazido como escravo é usada como principal representação deste grupo de trabalhadores espirituais, por outro é preciso compreender que quando falamos destas entidades na prática cotidiana dos diversos
terreiros não nos restringimos àqueles espíritos que tiveram uma encarnação em tais condições.
Na verdade, o grupo de entidades desta falange escolhe se expressar de tal maneira por vislumbrar na figura do preto-velho os ideais doutrinários representados pela humildade, perseverança, tenacidade, fé e determinação, marca determinante destes ancestrais africanos e afrodescendentes.
Assim, por meio de manifestação mediúnica, tais entidades revelam-se na forma de “vovôs”, “vovós”, “pais” e ‘mães” negros, humildes, simples, pacientes, tolerantes, encorajadores e, sobretudo, sábios em seus conselhos. São a imagem daqueles que mesmo sofrendo em vida
as injustiças da escravidão aceitam a missão de compreender o próximo e praticar a caridade para com seus semelhantes, se contrapondo à mágoa e ao ressentimento diante de todas as injustiças cometidas pela sociedade humana.
Além disso, os pretos e pretas-velhas da Umbanda colocam em relevo o valor das coisas simples, da linguagem comum, das
pessoas cuja sabedoria provém de grandiosidade de sua própria experiência de vida.
Certa vez ouvi de um Guia Espiritual, com seu jeito próprio de falar, o qual poderia ser classificado como “errado” pela norma culta, a explicação de que um espírito não se expressa desta maneira por limitação e sim por opção. Seguindo adiante na interpretação
deste fato, e considerando que tal opção não seja pura e simplesmente a de não falar corretamente, interpretamos que a intenção é fazer referência às pessoas que, por falta de posses, não chegam a ter uma formação escolar sofisticada, crescendo de maneira humilde,
mas não menos honesta, e amadurecendo como ser humano na medida do desenvolvimento de seus valores e retidão dos seus princípios e conduta.
Em outras palavras, os pretos-velhos são um exemplo, apenas pela forma de se manifestarem, da intenção de nos fazer compreender que a sabedoria e a grandiosidade de um espírito, além da vida material, não tem uma relação obrigatória e direta com sua passagem por uma única
encarnação.
Grandes lições de vida podem vir de pessoas simples, e não apenas entidades, mas irmão encarnados que nos rodeiam e contribuem diariamente para o desenvolvimento de nossas atividades diárias. Não aceitar tal fato é uma atitude que nos trai na revelação de um preconceito que, certamente, extrapola a opção religiosa da Umbanda para expandir-se no cotidiano em tudo aquilo que fazemos. Olhar com desdém o preto-velho, tal como o Caboclo e demais entidades do culto umbandista, apenas pelo seu jeito simples de se revelar, é assumir a própria postura discriminatória baseada na raça, na idade, na origem e na condição social do outro.
Por outro lado, se conseguimos ver a grandiosidade da humilde
figura do preto-velho sentado em seu “banquinho” para prestar atendimento aos seus irmãos encarnados, assumimos uma importante referência de valores que se revelam muito
mais próximos do conteúdo do que da superficialidade das coisas e dos fatos.
Sendo assim, quando festejamos, no dia 13 de maio, a Falange dos Pretos-velhos, também chamada Falange das Almas, estamos também comemorando, e exercitando, a capacidade do ser humano de aceitar amorosamente o próximo. É uma data para abandonar as
diferenças, para se permitir a emoção, para superar as desavenças, para estender a mão em auxílio e para enxergar nas coisas pequenas aquilo que imensamente transborda como dádiva de Deus através do mais puro Amor.
Por fim, já que o dia escolhido é o da abolição da escravatura no Brasil, cabe aproveitar o momento para promover a própria libertação de tudo àquilo que nos tem impedido a
evolução espiritual na Terra.
Certamente o mais importante nesta data é alinhar corações e
mentes com as emanações de Luz e Pureza do mundo espiritual, a fim de poder expandir os valores da Fé, da Esperança e da Caridade, assumidos como norteadores da Umbanda desde a sua fundação.